Pesquisadores de MT estudam efeitos de resíduos do vinho para o tratamento de doenças
Uma pesquisa fomentada pelo Governo de Mato Grosso, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), busca potencializar o uso de resíduos da produção vinícola (constituídos por bagaços e borra), procurando alternativas para incorporá-los em produtos que possam trazer benefício para a saúde.
Os resíduos de vinícolas são constituídos por bagaço e borra. O bagaço é composto pela semente e casca da uva, retirados após a primeira fermentação, e a borra constituída pelos sedimentos (partículas sólidas) retirados após a segunda fermentação. Cerca de 60% da colheita de uva é utilizada para vinificação, gerando um resíduo de bagaço de aproximadamente 5% do peso das uvas processadas, e do vinho total produzido pelas vinícolas 4% é borra.
Embora esses resíduos sejam descartados, há indícios de que eles possuam grandes quantidades de substâncias antioxidantes, entre outras, que são potencialmente benéficas para tratar e prevenir diversas doenças.
A pesquisa é coordenada pela professora doutora Fernanda Regina Casagrande Giachini Vitorino, do campus Araguaia, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por meio do edital Mulheres e Meninas na Computação, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra 2022.
“Nosso primeiro alvo terapêutico é verificar o uso desses resíduos para tratar a hipertensão arterial, uma doença que acomete um a cada cinco adultos no mundo todo. Embora existam muitos medicamentos para tratar a hipertensão arterial, muitos pacientes não respondem às terapias disponíveis, e precisamos buscar outras opções para tratar essa doença” ressalta a pesquisadora.
O delineamento experimental inicial do projeto é de 15 meses, sendo que, passada a metade do prazo, os pesquisadores já obtiveram resultados que chamaram a atenção, tanto em relação a quantidade de biocompostos encontrados nos resíduos vinícolas quanto em relação ao potencial anti-hipertensivo.
A coordenadora da pesquisa afirma que os resultados iniciais são animadores e as possibilidades de aplicação são inúmeras, principalmente com a introdução de produtos nutracêuticos no mercado de consumo, que são alimentos e componentes alimentícios com apelos médico ou de saúde.
Laboratórios Multiusuários
Para o desenvolvimento da pesquisa, a coordenadora, juntamente com a aluna de iniciação científica Lorrayne de Souza Oliveira, do laboratório de Biologia Vascular e Histopatologia do Campus do Araguaia/UFMT, são as responsáveis por realizar o tratamento de animais hipertensos com uma ração enriquecida com os resíduos da produção vinícola.
“Avaliamos semanalmente se esse tratamento consegue reduzir os níveis pressóricos desses animais, utilizando a aferição da pressão arterial desses ratos, in vivo, por meio da plestimografia de cauda”, explica.
Depois, a doutora Raiany Alves de Freitas e a mestranda Taynara Santos Santana utilizam os mesmos animais para avaliar se esse tratamento foi capaz de reverter danos vasculares, através de estudos in vitro com miógrafos de órgãos isolados.
A equipe de pesquisa conta ainda com a doutora Paula Pertuzatti, que, além de auxiliar na criação do projeto, é especialista na busca desses biocompostos. Na identificação química, a pesquisadora, juntamente com as mestrandas Kelly Claire de Moura da Costa e Betânia Branco Tiago de Queiroz, e a aluna de iniciação científica Julia Correia Silva, realizam a bioprospecção dos componentes utilizando cromatografia gasosa, cromatografia líquida de alta performance, ensaios de oxidação, entre outros ensaios de identificação.
Qualificação e avanços científicos
“Temos em nosso Estado mão de obra qualificada, com treinamento internacional para realizar inovação científica e explorar as potencialidades locais. Ter uma fundação de apoio à pesquisa em nosso Estado, que priorize fomentar projetos que aliem a sustentabilidade e a inovação em saúde, é de grande valia”, afirma a coordenadora Fernanda Giachin, sobre a Fapemat.
“Especificamente esse edital que apoia as mulheres cientistas do nosso estado também demonstra que Mato Grosso está particularmente interessado em reduzir as assimetrias relacionada ao gênero, dentro da área da pesquisa, pois a nossa equipe de trabalho é majoritariamente composta por mulheres”, acrescenta.
A coordenadora destaca, ainda, que a investigação pode gerar avanços importantes nas esferas científica, tecnológica, econômica e social. Científica em razão das descobertas sobre o potencial terapêutico desses resíduos, bem como em relação ao fortalecimento das redes de pesquisa entre Mato Grosso e a Espanha.
Avanços tecnologócios porque projetos como esse atestam a qualidade de infraestrutura local instalada nos laboratórios de pesquisa, bem como no Centro de Pesquisa Multiusuário do Araguaia (CPMUA), além da possibilidade da criação de inúmeros produtos nutracêuticos.
Por sua vez, também geram impacto econômico, no sentido de agregar valor a um subproduto que atualmente é descartado, além de gerar um impacto ambiental. A gestão de resíduos é um compromisso social na geração da produção sustentável, encorajando iniciativas empreendedoras para utilizar esses resíduos na geração de renda e inclusão social.
Com Assessoria